top of page
Buscar

A coleção do Sinatra

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 1 de abr. de 2022
  • 3 min de leitura

Bem provável que à raiz das comemorações pelo centésimo aniversário de Frank Sinatra ocorrido agora em dezembro, com muita gente falando no assunto, o cronista Ruy Castro tenha se lembrado e lançado a curiosa pergunta: onde havia ido parar a coleção de trenzinhos elétricos que o cantor tinha em sua mansão e que ocupava uma sala especial?

Alguém poderia opinar que sua coleção de mulheres foi muito mais interessante, mas a pergunta tinha sentido. Com tanta grana para repartir após a sua morte, é bem provável que seus herdeiros não tivessem lá muita preocupação com os trenzinhos elétricos que o cantor tanto estimava, mesmo com um deles cravejado de diamantes.

Sinatra não teria sido o único nem foi o último marmanjo interessado em trenzinhos elétricos. Desde o aparecimento das lendárias máquinas a vapor que revolucionaram o mundo aos atuais trens balas, o trem exerce um enorme fascínio nas pessoas de todas as idades. Muitos investiram e investem verdadeiras fortunas nesses brinquedos. E bom tempo.

Quando saí da universidade e comecei a trabalhar tive um colega que sentava ao meu lado que também colecionava trenzinhos elétricos. E parecido ao Sinatra tinha uma coleção que ocupava uma sala inteira na sua casa. Todos importados da Alemanha, de onde eram os seus pais, e onde os trenzinhos sempre estiveram de moda. Eu sabia pouco do assunto e olhava o colega meio de rabo de olho achando estranho um adulto barbado envolvido com coisas que, para mim, eram de criança.

De menino eu nunca tive uma coleção, eu bem que tentei uma, de selos, mas tive que desistir depois de pouco tempo já que poucas cartas chegavam à minha casa. Depois eu tentei uma de bolinha de gude, não era lá grande coisa, mas acabei me desfazendo dela, sem querer, em jogos intermináveis de biloca com os amigos da rua.

E então, na falta de uma própria, tinha que me contentar conferindo e ajudando um colega com sua coleção de gibis, principalmente do Jerônimo, Herói do Sertão, que ele guardava enlaçada como um tesouro e só a mostrava para alguns poucos amigos e em ocasiões especiais. Acho que era a única coleção da cidade, se havia outra eu não conhecia.

Eu já era adulto, casado, quando viajando pelo mundo comecei a colecionar caixinhas de fósforos de propaganda copiando um colega alemão que tinha a sua exposta numa parede de uma sala da sua casa com as mesmas coladas e ordenadas em ripas de madeira. Um luxo. Outra coisa que coleciono sãos os pratinhos de cerâmicas das cidades que visito e vou pendurando na parede da copa. Também cópia de outro colega alemão que vi ao visitar sua casa. E por último, tenho uns tanto porta-copos de propaganda de cerveja, principalmente alemãs, uma das minhas bebidas favoritas.

Num e noutro caso, as minhas coleções são de amadores, sem qualquer valor monetário ou sentimental. Mas quando as vejo me servem para recordar detalhes de lugares visitados, momentos especiais compartilhados com pessoas da minha estimação.

Em nenhum caso se parecem à coleção do Sinatra, a dos trenzinhos, que segundo li, ele a tinha como uma espécie de compensação aos tempos pobres da infância quando qualquer brinquedo estava longe do seu alcance.

E, ainda no meu caso, sem que sejam motivos de disputa futura na herança e sem que alguém vá se preocupar em saber daqui alguns anos onde foram parar.

Março, 2016

Commentaires

Noté 0 étoile sur 5.
Pas encore de note

Ajouter une note
bottom of page