A estupidez humana
- Beto Scandiuzzi
- 1 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
Visitas a museus não devem entrar no programa de turistas apressados. Tempo é fundamental para aproveitar ao máximo os que os museus podem oferecer. Aprendi essa lição na minha primeira viagem à Europa lá pelo início dos anos 80. Era uma viagem de trabalho, mas o bilhete aéreo de volta comtemplava uma parada em Paris. E eu aproveitei o fim de semana. Havia planejado visitar todos os lugares famosos e, lógico, o museu do Louvre estava no topo da lista. Eu não tinha ideia do tamanho do museu e logo no primeiro dia, bem cedinho, eu já estava na porta. O plano, ingênuo, era visitar o museu inteiro e comecei com as antiguidades egípcias, gregas, etruscas e, quando percebi, era meio dia e ainda não havia chegado aos romanos.
Bem, entendi a tempo que naquele ritmo seriam necessários dias, semanas, para visitar as diversas alas, andares e salas; coisa que eu não tinha. Repensei, pulei etapas e fui diretamente à parte de pinturas, até chegar à Mona Lisa de Da Vinci, não sem antes enfrentar uma fila interminável de visitantes à minha frente.
Anos mais tarde em minha primeira visita a Madri, tinha tempo e visitei os museus do Prado e da Reina Sofia. No primeiro, as obras de Velázquez, El Greco, Goya, Tiziano são as mais destacadas; no segundo, se pode admirar Dalí, Juan Miró, mas Guernica de Picasso chama a atenção dos visitantes.
O quadro em preto e branco, tamanho mural, foi pintado em 1937, quase ao final da guerra civil espanhola e é uma mensagem de resistência contra o autoritarismo e governos fascistas da Europa de então. Nele estão retratados a barbárie, o drama, a morte e a tragédia e, como tema central, o massacre ocorrido na pequena cidade basca de Guernica por caças alemães em apoio ao general Francisco Franco, que golpeava contra a República elegida democraticamente.
Lembrei-me do quadro nesses dias sombrios olhando as imagens que nos chegam da guerra entre Rússia e Ucrânia. Conta a história, que durante a Segunda Guerra Mundial Picasso, já vivendo em Paris, (jamais voltaria a viver na Espanha), recebe a visita em seu estúdio de uns soldados alemães. Ao ver o quadro de Guernica, um oficial pergunta se ele havia feito aquilo. Ao que Picasso respondeu sem titubear:
– Não, você o fez.
Desde sempre, muitas outras guerras inúteis foram feitas e que mereceriam murais como o de Guernica de Picasso. E, se alguém perguntasse quem os fez, a resposta poderia ser sempre a mesma de Picasso, independentemente de raças, cores, crenças, credos. A estupidez humana não tem limite.
Março, 2022
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