top of page
Buscar

A estupidez humana

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 28 de fev.
  • 2 min de leitura

 



 

Visitas a museus não devem entrar no programa de turistas apressados. Tempo é fundamental para aproveitar ao máximo o que os museus podem oferecer em termos de arte e cultura. Aprendi essa lição na minha primeira viagem à Europa lá pelo início dos anos 80. Era uma viagem de trabalho, mas o bilhete aéreo de volta contemplava uma parada em Paris. E eu aproveitei o fim de semana. Havia planejado visitar todos os lugares famosos e, lógico, o museu do Louvre estava no topo da lista. Eu não tinha ideia do tamanho do museu e logo no primeiro dia, bem cedinho, eu já estava na porta. O plano, ingênuo, era visitar o museu inteiro, então comecei com as antiguidades egípcias, gregas, etruscas e, quando percebi, era meio dia e ainda não havia chegado aos romanos.

Bem, entendi a tempo que naquele ritmo seriam necessários dias, semanas, para visitar as diversas atrações entre alas, galerias e salas; coisa que eu não tinha. Repensei, pulei etapas e fui diretamente à parte de pinturas, até chegar à Mona Lisa de Da Vinci, não sem antes enfrentar uma fila interminável de visitantes à minha frente.

Anos mais tarde, em minha primeira visita a Madri, tinha tempo, experiência, e visitei os museus do Prado e da Reina Sofia. No primeiro, as obras de Velázquez, El Greco, Goya, Tiziano são as mais destacadas; no segundo, se pode admirar Dalí, Juan Miró, mas Guernica de Picasso chama a atenção dos visitantes.

O quadro em preto e branco, tamanho mural, foi pintado em 1937, durante a guerra civil espanhola e é uma mensagem de resistência contra o autoritarismo e governos fascistas da Europa de então. Nele estão retratados a barbárie, o drama, a morte e a tragédia e, como tema central, o massacre ocorrido poucos meses antes na pequena cidade basca de Guernica por caças alemães em apoio ao general Francisco Franco, que golpeava contra a República espanhola elegida democraticamente.

Lembrei-me do quadro nesses dias sombrios olhando as imagens que nos chegam da guerra entre Rússia e Ucrânia, do Oriente Médio e de outras partes do mundo. Conta a história, que durante a Segunda Guerra Mundial Picasso, já vivendo em Paris (jamais voltaria a viver na Espanha) e tendo fama de simpatizante comunista, recebe a visita em seu estúdio de soldados alemães que ocupavam a cidade. Ao ver o quadro de Guernica, um oficial pergunta se ele havia feito aquilo. Ao que Picasso respondeu sem titubear:

- Não, vocês o fizeram.

Desde sempre, muitas outras guerras inúteis foram e continuam sendo feitas e também mereceriam murais como o de Guernica de Picasso. E, se alguém perguntasse quem os fez, a resposta poderia ser sempre a mesma de Picasso, independentemente de raças, cores, crenças, credos. A estupidez humana não tem limite.

 

José Humberto Scandiuzzi

 

É engenheiro e autor de três livros de crônicas. Escreve no blog www.blogdobeto.com.br

 

 
 
 

2 commentaires

Noté 0 étoile sur 5.
Pas encore de note

Ajouter une note
Invité
07 avr.
Noté 5 étoiles sur 5.

Parabéns pelas crônicas, gostei muito!

J'aime

Claudemil
28 févr.
Noté 5 étoiles sur 5.

Humberto, parabéns!

J'aime
bottom of page