A moda
- Beto Scandiuzzi
- 12 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
Nesta semana andei procurando sapatos para comprar. O vendedor, bom de bico, me diz que os de bico quadrado estão na moda. Olho desconfiado, esses sapatos, horríveis para meu gosto, eram moda na minha juventude, muitos anos atrás. E parece que voltaram.
As revistas estão anunciando aos quatro ventos que o corte de cabelo Chanel vai ser moda neste verão. Bastou que algumas estrelas do cinema aparecessem com esse corte e pronto. Virou moda. E olha que o corte, um verdadeiro clássico, já foi moda várias vezes desde que Coco Chanel o lançou lá pelos anos 30.
Diz-se que a moda é um costume passageiro que se estabelece conforme o gosto do momento, segundo hábitos de vida comuns à maioria das pessoas de um determinado grupo humano. É efêmera e volátil. Vai e volta como os sapatos de bico quadrado ou o corte de cabelo Chanel. E vai se alterando com o passar dos tempos. Hoje, num processo muito mais acelerado num mundo globalizado e conectado dia e noite na internet. Já os costumes se modificam mais lentamente.
E fico pensando o que aconteceu com os chapéus Ramenzoni, Cury, Prada, sinônimos de moda e elegância na época da minha infância. Naqueles tempos, todos os homens usavam chapéus, que, quando não estavam na cabeça das pessoas, ficavam guardados em caixas de papelão redondas em cima do guarda-roupa. Um costume que durou décadas, talvez séculos. Mas hoje quem usa chapéu?
E os Correios? Que será dos Correios? Fora as falcatruas dos políticos, quem precisa dos Correios? Quem escreve cartas hoje em dia neste mundo do WhatsApp? Há anos não escrevo uma, e as que recebo ou são contas para pagar ou propaganda de loja.
Por aqui e ali escuto que o jornal vai desaparecer. Grandes jornais em todo o mundo mostram declínio das vendas ano após ano. Mais um que será substituído pela internet? É possível, talvez numa próxima geração. E aí fico imaginando meus netos, bisnetos lendo as notícias no computador, no relógio ou em qualquer nova engenhoca eletrônica. E arregalando os olhos, abismados, quando alguém menciona a palavra jornal.
Choro por eles, não saberão nem sentirão o prazer inigualável de ler um jornal, numa bela manhã de primavera, ensolarada, com uma leve brisa soprando e penetrando pela fresta da janela, no cantinho favorito da casa, sorvendo goles generosos de café. E sentindo aquele cheiro de papel, único, impregnado de lignina. Passando pelas manchetes, depois pelas crônicas, às vezes começando pela última página, invertendo a ordem dos acontecimentos ou a importância dos fatos. Que pena!
Abril, 2013
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