Antes de ..
- Beto Scandiuzzi
- 25 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Candy Chang é arquiteta, americana e filha de imigrantes de Taiwan. Ficou famosa ao idealizar em 2011 um painel nas paredes externas de uma casa abandonada em Nova Orleans, USA, onde mora, intitulado “Before I die, I want…”, “Antes de eu morrer, eu quero…”, já reproduzido em mais de setenta países passando os dois mil exemplares. A ideia surgiu, segundo ela, depois da perda de uma pessoa muito querida. “Essa iniciativa, portanto, tem a ver com gratidão”, acrescenta. As respostas surpreendem pela simpleza e inspiração: abraçá-la mais uma vez, beijá-la por uma noite, se apaixonar, dançar, viajar, etc.
Tempos atrás, numa das tantas viagens que fiz entre Buenos e São Paulo, no meio do voo o avião entrou numa tempestade violenta. Nunca tinha passado por uma situação igual. O avião tremia como vara verde e a gente assustada se agarrava na poltrona, vomitava e gritava. Também tive medo mesmo sentado ao lado de um padre que, a certa altura, com a Bíblia aberta e um rosário na mão começou a rezar. Acho que as orações ajudaram o avião a sair ileso da tempestade.
O percalço durou longos e estressantes minutos, tempo suficiente para pensar na possiblidade da morte e confesso que me passou pela cabeça, em pensamentos rasantes, entrecortados, entristecidos, tudo que eu poderia ter feito e não fiz. Foi quando me lembrei de Candy que havia visitado o Brasil anos antes e instalado um dos seus painéis em Belo Horizonte. O que eu escreveria no painel da Candy? Nada da série popular sobre ler os melhores 100 livros, beber os 100 melhores vinhos, visitar os melhores restaurantes. Pensei em coisas mais simples, voltar a rever minha família, meus amigos, ver os meus netos crescerem, voltar ao lugarejo onde nasci e cresci, beijar a moça-que-manda-em mim, rever aqueles pores do sol espetaculares do meu Deus me Livre.
Algumas semanas atrás, bem depois desse episódio, tomando chope com um amigo, ele me perguntou de supetão: qual o seu plano de vida para os próximos vinte anos? Confesso que fui pego de surpresa e o máximo que consegui responder no momento foi: não te parece demasiado na nossa idade pensar num plano tão longo?
A pergunta que, inicialmente parecia uma barbaridade, me levou a pensar e decidi colocar um pequeno painel na parede do meu escritório ao estilo de Candy Chang, “Before I die, I want…,” como uma espécie de plano de vida que o amigo havia sugerido. As seis primeiras frases que escrevi são as mesmas que pensei naquele voo da tempestade. Com algum espaço vazio para futuros desejos. Espero que se cumpram!
Fevereiro, 2022
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