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As chanchadas da Atlântida

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 23 de ago. de 2021
  • 2 min de leitura

– Gostou do filme?

– Não, um abacaxi!

Era assim o diálogo com os amigos, quando o filme era ruim, logo depois da sessão do cinema do meu lugarejo, de tela nem tão panorâmica nem cinemascope naqueles tempos de antigamente. Em geral eram filmes brasileiros, comédias estilo pastelão e muita música, inclusive carnavalescas, eternizadas no cancioneiro popular. Ficaram conhecidas como chanchadas e dominou o cenário cinematográfico daqueles anos da metade do século passado.

Se você não é desse tempo, e precisa ir ao Houaiss, verá que chanchada é cinema ou espetáculo em que predomina um humor ingênuo, burlesco, popular e de baixo custo. Eram produzidas por uma companhia, se chamava Atlântida Cinematográfica – sediada no Rio de Janeiro, nascida para fazer frente aos americanos, promovendo artistas como Grande Otelo, Oscarito, Zé Trindade, Ankito, Dercy Gonçalves, o galã Cyll Farney e músicas e cantores como Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Maysa, Ivon Curi entre outros mais.

Um desses filmes que me traz muitas lembranças é O homem do Sputnik, que conta as peripécias de um homem simples que pensa que o foguete russo havia caído no seu galinheiro. Era uma comédia, mas o que ficou na memória foi uma linda atriz que estreava no cinema parodiando Brigitte Bardot. Seu nome: Norma Bengell. Considerada uma das maiores musas do cinema e do teatro brasileiro, ficou famosa quando protagonizou, e causou muita polêmica, no filme Os cafajestes, a primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro, que eu vi, embebecido, anos mais tarde, já cursando a faculdade numa tarde quando as aulas foram cabuladas, sem remorsos, e por uma boa razão. Morreu em 2013 aos 78 anos e era ainda uma linda mulher.

Tudo isso me veio à memória lendo uma crônica do Ruy Castro na qual ele relembra esse tempo das chanchadas, seus comediantes, músicas e cantores. Foi aí que li que o termo “abacaxi” é daqueles tempos e se usava para designar os filmes dos quais não se gostava em alusão aos cenários usados, reiteradas vezes, com bananas e abacaxis.

Os estúdios da Atlântida pegaram fogo em 1952 e pouco e nada sobrou daqueles filmes que marcaram uma época do cinema nacional e grande parte da minha infância e início da adolescência. Como disse o Ruy, quem viu, viu. Quem não viu…

Julho, 2021

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