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Eleição

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 28 de out. de 2022
  • 2 min de leitura

Leio, intrigado, nessa manhã linda e de céu anilado de final de outubro, cercado de orquídeas coloridas e gerânios vermelhos, na semana que antecede às eleições, que em 1532 houve a primeira eleição no Brasil e das Américas promovida por Martim Afonso de Souza. Intrigado porque era um Brasil recém-descoberto, colônia, e a eleição, para vereadores na Câmara Municipal de São Vicente, então, “uma povoação com dez ou doze casas e uma feita de pedra com seus telhados, e uma torre para defender dos índios em tempos de necessidades”, como registrou Alonso de Santa Cruz, cosmógrafo daqueles tempos. De onde se conclui que, se nossa democracia não é boa, não é por falta de antecedentes.

Participei da primeira eleição presidencial, sem título de eleitor, em 1960, uma disputa que acompanhei empolgado com o ouvido colado no rádio. Eu não entendia nada de política, mas torci para o Jânio Quadros apenas para agradar minha mãe.  E, se era ainda um adolescente, também participei da decepção de todos com a sua inesperada e nunca explicada renúncia, sete meses depois da posse, e sem que ele fosse o último a me frustrar ao longo de tantas eleições.

As eleições de então eram esperadas, festivas, e os dias como especiais; se votava com a melhor roupa, orgulhoso; havia uma tal de lei seca que proibia vender bebidas alcoólicas nos bares, medida que muitos burlavam com a ajuda do amigo proprietário do estabelecimento. E o voto, uma cédula de papel que se depositava em uma urna. A apuração? Contagem manual de cada cédula e cada urna. Jamais alguém podia imaginar que haveria no futuro uma tal de urna eletrônica.

Tirei meu título de eleitor em 1967 e a primeira eleição foi para prefeito e vereadores do meu lugarejo em 1971. Era a segunda eleição no recém-criado município e ganhou meu candidato, mas o que me marcou foi a decepção por não ter sido convocado para trabalhar na votação, cargos que então proporcionavam prestígio e glamour.

Já vivendo em Campinas e contente por ter sido convidado para participar como mesário no pleito, aqui votei para prefeito e governador em 1983, mas eu deveria esperar até 1989 para o meu primeiro voto a presidente da república. Ganhou um tal Collor de Melo prometendo varrer o Brasil dos marajás. Acabou ele varrido apenas dois anos depois coberto de casos de corrupção.

O que mudou de lá para cá? Muita coisa, o Brasil é outro, os tempos outros, mas acredito que a grande diferença está no advento da internet, redes sociais, a velocidade e a disponibilidade da informação em tempo real que tornam as conversas mais que apaixonadas, muitas desnecessariamente desrespeitosas, deseducadas e fora de contexto. Pensar diferente do outro não nos faz inimigos.

Em quem vou votar? Respondo com uma história contada pelo Antonio Contente aqui no Correio. Dizia ele que um fazendeiro, dos antigos, reunia seus empregados no dia das eleições e ia entregando a cada um o envelope devidamente lacrado pronto para ser enfiado na urna. Numa dessas ocasiões, um empregado mais atrevido perguntou ao patrão: “Coroné, em quem estou votando?” Ao que o coronel respondeu: “Então, o senhor não sabe que o voto é secreto?”

Outubro, 2022

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