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Em uma igreja pela primeira vez

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 25 de nov. de 2022
  • 2 min de leitura

Anos atrás, mostrando a cidade a um amigo argentino que me visitava, logo depois de um almoço no Giovannetti, o da praça central, entramos na catedral de Nossa Senhora da Conceição aqui de Campinas. Antes de cruzar a porta de entrada, comentei com ele a respeito da crença de fazer um pedido quando se entra pela primeira vez em uma igreja, sem saber se ele acreditava ou não nessas coisas. Me disse que não conhecia a crença, mas de qualquer forma iria fazer o pedido. Semanas depois ele me ligou para dizer que, na Argentina, tal crença também existia e que teve seu pedido atendido.

Eu não saberia dizer quando escutei por primeira vez essa história de fazer um pedido quando se entra em uma igreja pela primeira vez. Não, de menino e adolescente, eu não sabia disso. Mesmo porque, fora a igreja de Santo Antônio da minha cidade natal e algumas igrejinhas de fazenda onde ia rezar missas com o frei Rosalvo, em poucas outras igrejas entrei. Claro, eram tempos de poucos recursos financeiros e poucas viagens; com meus pais, visitávamos parentes, os bem próximos, sem tempo de ir comtemplar igrejas.

Tampouco foi em minha primeira viagem à Europa, eu ainda era muito jovem e despreocupado com essas crendices. Assim, chego à conclusão de que poderia ter sido em uma viagem a Paris com a Vera, que sabe dessas coisas. Estávamos por entrar na Notre-Dame quando ela me disse: “Faça um pedido se é sua primeira vez”. Era uma estranha manhã de verão, de pouco sol, poucos turistas, céu acinzentado e a luz entrava timidamente pelos lindos vitrôs da catedral. Entramos, nos sentamos próximo ao altar e, a passos de onde Napoleão coroou a si mesmo imperador, fiz o pedido. Já não me lembro o que pedi, provavelmente alguma coisa relacionada ao trabalho, eu vivia a crise da meia-idade.

Desde então, tenho o hábito, em minhas viagens, de visitar igrejas, independentemente do credo religioso. E, em cada uma delas, se é por primeira vez ou não, lanço um pedido, sempre o mesmo: saúde e paz para mim e minha família.

Pouco antes da pandemia, num dos passeios com os netos, depois de um café na Romana, entramos na belíssima igreja de Nossa Senhora das Dores, que fica ao lado. Em estilo neocolonial, é uma das mais bonitas da cidade, com seus vitrais em estilo barroco e rococó e que conta a história de Jesus desde seu nascimento até sua prisão e morte. Era a primeira vez de todos, e a Vera se lembrou dos pedidos. Respeitosamente, frente ao altar, nos ajoelhamos. Fiz meu pedido de sempre. Maria e Fefê, de mãos em prece, fizeram os seus em silêncio. Tôto, mal-informado, o fez em voz alta: que o vovô lhe comprasse cartinhas Pokémon.

Novembro, 2022

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