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O dono da Playboy

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 10 de jul. de 2018
  • 2 min de leitura

Faleceu outro dia aos 91 anos e parecendo ter menos, Hugh Hefner, o famoso americano que havia escandalizado a puritana e hipócrita sociedade americana dos anos 50 ao fundar a revista Playboy, que se popularizaria mundialmente, mais tarde, como a mais famosa revista de mulher pelada. Provavelmente em um pijama preto de cetim, pantufas floridas, o seu famoso roupão bordô aveludado, quepe de marinheiro e cercado de estonteantes “coelhinhas” loiras em trajes sumários, bocas de batom vermelho e sorrisos de pecado. No bolso, quase certo, um papelzinho amarotado, onde havia escrito com letras trêmulas, quando o Alzheimer recém havia dado as caras, Pamela Anderson, a sua “coelhinha” favorita de toda a vida.

Cumprindo seu estrito pedido foi enterrado num cemitério de Los Angeles num túmulo ao lado do de Marilyn Monroe, aquela que havia sido a capa da sua primeira Playboy no longínquo ano de 1953. Mas não foi aí neste lugar tão triste e frio que a havia reencontrado depois de tantos anos. Não, a encontrou horas antes, loira e linda como sempre, logo após sua morte, quando subiu aos céus, numa ala especial, reservada, onde estavam todos os que algum dia haviam sido famosos na terra. Gandhi, Picasso, De Gaulle, Mandela, Elvis, John Lennon, rainha Victoria, Einstein, Jesus Cristo, Hitler, Napoleão Bonaparte, Franco, Mussolini e se dizia que até Jack, o Estripador aparecia de vez em quando, sempre mantido à distância por motivos óbvios. Se comunicavam numa língua estranha, rústica, às vezes parecida ao basco espanhol, às vezes com alguma língua primitiva e bárbara da África profunda.

Mas, para ser fiel à história é preciso dizer que houve um percalço no caminho, antes do encontro com Marilyn. Foi na entrada do céu. Houve um bate-boca feio com São Pedro porque este tentava lhe explicar que não se chateasse com a morte, que se tranquilizasse, que havia ido para uma melhor. Hefner, desanimado, o olhava de soslaio, como que pensando, este cara está por fora, não sabe nada da minha vida lá embaixo.

Quando finalmente entrou, encontrou Marilyn rodeada por todos aqueles que haviam sido algum dia seus maridos, amantes, namorados: Arthur Miller, DiMaggio, Tony Curtis, Marlon Brando, Franco Sinatra, Yves Montand, todos sentados numas nuvenzinhas fofas, fumando narguilé, enquanto Marilyn, num vestido de seda branco rodado, com o vento subindo por suas pernas roliças, cantava “Happy birthday Mr. President” a um sorridente e embasbacado John F. Kennedy.

Marilyn não lhe deu muita bola no início, tratava-o bem, mas apenas como mais um do clã que havia chegado depois. Mas essa aparente distância foi mudando e para desgosto de todos, Hefner passou a ser a sua companhia preferida. Dia e noite. Não passou muito tempo para que descobrissem a razão de tanto carinho por Hefner: numa tarde em que ele havia ido passear com Marilyn entraram no seu quarto e descobriram no bolso do seu roupão bordô um punhado de pastilhas azuis.

Outubro, 2017

 
 
 

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