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Um ex-atleta

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 31 de mai. de 2023
  • 2 min de leitura

Há anos planejava frequentar uma academia de ginástica. Desde que um médico amigo me comentou que, com o avançar da idade, vamos perdendo massa muscular e que, uma das maneiras de compensar essa perda, é através dos exercícios físicos. Sarcopenia, se chama o processo, frisou ele. Nome feio e que só de escutar já se fica doente.

E, depois de enrolar por muito tempo, finalmente, semana passada, fui à primeira aula. Confesso que, parte pela recomendação do amigo médico, porém mais ainda porque, ao lado do edifício onde moro, abriu uma academia que logo às seis da matina aciona uma música ensandecida, a todo volume, mistura de heavy metal, rock e axé, obrigando-me a levantar da cama.

Com roupa de atleta descorada, apertada e de outros tempos me apresento na academia. Me recebe uma jovenzinha linda, loira, seios fartos, cabelos sedosos, com um sorriso esbanjando saúde vestida numa calça jogging colorida e justa que ressalta seu corpo sarado e escultural. Tento não prestar atenção nos detalhes. Me dá um beijo em cada face impregnando-me de um perfume suave e fresco, me direciona à sala dos aparelhos e me apresenta ao professor já rodeado de blocos de ferro e máquinas de aço que lembram antigas salas de tortura da época da inquisição.

Se chama Jonas. Tenta ser simpático comigo. Como se fosse meu filho. Passa-me algumas instruções, ligeiras, um leve aquecimento, tapinha nas costas e logo me indica o primeiro aparelho para os braços. Ao primeiro movimento sinto que alguns músculos esquecidos há tempos reagem e dão sinal de vida. E de mau humor. Paro. O professor insiste: mais nove vezes. Chego a cinco. E me sento numa cadeira. Olho ao redor. Vários jovens com músculos delineados à flor da pele e barriga de tanquinho me olham como se eu estivesse chegando da Lua. Sorriem. Logo disfarçam e voltam aos seus aparelhos como que envergonhados por olhar um idoso em dificuldades.

Passo a outro aparelho, agora para as pernas. Vou melhor, talvez pelos tantos anos de futebol e peladas. Me entusiasmo. Ultrapasso os dez movimentos recomendados. De repente a sala começa a girar, o professor me socorre. Me sento. Água. Ventilador. Janelas escancaradas. Controle do pulso. Basta. Agarro a toalha e a coloco no pescoço como fazem todos os jovens. Tento disfarçar a fraqueza. Passo pela portaria o melhor que posso, cabeça erguida em passos firmes e retos. Um tchau ligeiro à recepcionista ocupada em retocar a maquiagem como se precisasse de artifícios.

Em casa me recebem felizes como se eu estivesse voltando da guerra. Um herói. Suco de romã batido com Gatorade de frutas cítricas. Toalhas quentes. Gelol. Cama. Fecho os olhos. Penso. Talvez amanhã volte à academia. Nem que seja para saudar a recepcionista.

Maio, 23

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