Zeebra!

Foi um furor quando apareceu no início dos anos 1970. Se chamava Loteria Esportiva, e o objetivo era prognosticar resultados de partidas de futebol. Era uma tirinha de papel listada com treze jogos e onde se anotava um dos três resultados possíveis. Um palpite duplo era permitido. Ao final de todos os jogos no domingo, um computador processava as apostas e encontrava o ganhador ou ganhadores: com treze pontos ou menos. O sonho de ficar rico fez com que o novo jogo fosse um sucesso nacional. Mas, contrariamente ao que o povo pensava, – todo brasileiro acha que entende de futebol, as chances de ganhar eram pequenas. Porém, muitos acabaram ficando milionários e conhecidos nacionalmente.

Fez história também quando, alguns anos mais tarde, os resultados dos jogos no domingo no Fantástico passaram a ser anunciados por uma zebra, popularizando a gíria para designar um resultado inesperado. A expressão não é da Globo, é de Gentil Cardoso, folclórico técnico de futebol dos anos 50/60 do século passado. Ele, então técnico da Portuguesa RJ, time pequeno, disse antes de um jogo contra o poderoso Vasco da Gama: vai dar zebra, criando a palavra “zebra”, usada até hoje nos meios esportivos. A origem vem do jogo do bicho, que não tinha a zebra entre os vinte e cinco animais a serem sorteados. Ou seja, era impossível sortear a zebra. A Portuguesa venceu aquele jogo.

Antecessores da loteria, ainda na era analógica, eram os bolões que se organizavam numa folha de papel almaço pautada, onde se anotavam à mão os resultados dos jogos locais ou de algum clássico do campeonato paulista. Aqui era necessário acertar o vencedor e o resultado. Lá no meu lugarejo, a lista ficava na Sorveteria dos Marçolas e era um reboliço nos domingos à noite para saber o ganhador. Ninguém ficava milionário, mas era divertido levando-se em conta que a vida corria lenta e muita coisa não havia para fazer.

Já popularizada nacionalmente como Loteca e, após um auge nos anos 80, a loteria começou a cair em função de denúncias de fraudes e concorrência de outros jogos de apostas. Nos dias de hoje, com catorze jogos e R$ 3,00, é possível arriscar um palpite, quase o mesmo valor que se pagava quando foi lançada, em cruzeiros novos, moeda da época.

Já desde então meio avesso a jogos de azar, mas apaixonado por futebol e curto de grana, eu fazia os meus jogos todos os fins de semana, sem registrá-los, tentando testar os meus conhecimentos e sorte. Numa ocasião cheguei a fazer 12 pontos. Errei um jogo do Corinthians contra o Juventus SP. Ganhou o Juventus, considerado uma zebra. Eu teria ficado milionário, de mentirinha.

Março, 2023