Meu jeito

“And now the end is here

And so I face that final curtain

My friend I´ll make it clear….”

 

Eu estava com velhos amigos num desses fins de semana calorosos de novembro passado festejando os 50 anos de formatura do curso de engenharia, quando escuto essa canção. Me viro surpreso, porque, pasmem, parecia Frank Sinatra cantando aquele que é um dos seus maiores sucessos. Claro, eu não estava bêbado nem gagá e logo a ficha cai quando vejo o colega Ota soltando a voz participando do karaokê que os amigos haviam improvisado. E noto que outros colegas, como eu, foram também surpreendidos, mostrando que a imitação era muito boa. E todos o aplaudiram ao final da canção.

Antes de chegar a Sinatra, My way, uma das músicas mais gravadas de todos os tempos percorreu um caminho sinuoso. É de origem francesa, composta e originalmente gravada por um tal Claude François em 1967 e teve pouco sucesso por lá. Porém, a história cambiaria. Quando Paul Anka a descobre, compra seus direitos autorais e a adapta ao inglês, mantendo a música e fazendo outra letra. Conta a lenda que Paul a escreveu, numa noite chuvosa, pensando no amigo Frank Sinatra.

A música, gravada por Frank Sinatra em 1969, narra a história de um homem que está chegando ao final dos seus dias e começa a fazer um reconto da sua vida. Olha para trás e está satisfeito com o que fez. E, o mais importante, feito à sua maneira, fiel a si mesmo. Apesar de todo o sucesso, dizem que não gostava da música.

Frank Sinatra, quatro casamentos e uma lista interminável de lindas mulheres, de Marylin Monroe a Grace Kelly, passando por Ava Gardner, dizem, seu grande amor, havia se separado recentemente de Mia Farrow, após apenas dois anos de união, e a música parecia ter sido feita à sua medida.

“Ele sempre pensou que a canção era egoísta e autoindulgente. Ele não gostou. Essa música ficou presa a ele, que não conseguiu se livrar dela”, teria dito sua filha Tina. E na sua própria explicação: “…eu odeio me gabar. Eu odeio falta de modéstia, e é assim que me sinto com essa música”. Apesar disso, nunca a deixou de cantá-la nos seus shows, foi tocada no seu enterro quando morreu em 1998 e sempre é lembrada quando se quer recordá-lo.

Sinatra, que viveu de forma intensa seus oitenta e três anos, como poucos, entre drogas, bebidas, mulheres, dinheiro, política, máfia, êxitos e fracassos, talvez porque sua personalidade não se encaixava na música, tinha todas as razões para não a querer.

Porém, com todo respeito, vou contrariá-lo: gosto da música e a letra é sublime; e mais, quem não gostaria, quando ao momento de nossa ida deste mundo, poder olhar para trás e dizer que fomos fieis a nós mesmos? Com vitórias, derrotas, erros e acertos, mas à nossa maneira, ao nosso jeito. My way!

 

Janeiro, 2024

9 comentários sobre “Meu jeito”

  1. Como sempre o Beto se supera fazendo crônicas cada vez mais lindas.Esta sobre uma das mais lindas músicas do França Sinatra-My Way- é MARAVILHOSA onde ele mostra todo o seu talento para escrever . Parabéns Beto.

    1. No final dos anos 60 eu era professor no Liceu de Goiânia, colégio tradicional na época, ganhei meu primeiro disco de uma colega, um pequeno disco que tinha só uma música, My Way.

  2. No final dos anos 60 eu era professor no Liceu de Goiânia, colégio tradicional na época, ganhei meu primeiro disco de uma colega, um pequeno disco que tinha só uma música, My Way.

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