Garrincha e o russo

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, 1945, Estados Unidos e União Soviética, os grandes vencedores, iniciaram um enfrentamento político, econômico, social, militar, informativo e científico. As razões eram ideológicas, cada um tentando dominar o mundo à sua maneira. Os americanos capitalistas contra os soviéticos comunistas. E o mundo se dividiu ao meio. A este conflito se denominou “Guerra Fria” porque não houve conflito bélico direto entre as duas potências e durou até o desmoronamento da União Soviética em 1991.

Uma disputa interessante se travou no que se chamou corrida espacial, o domínio do Universo.  A União Soviética colocou em órbita terrestre o primeiro satélite, Sputnik 1, o primeiro homem, o astronauta, Yuri Gagarin, a primeira mulher, Valentina Tereshkova, a primeira estação orbital, e pousou na Lua a primeira nave espacial, mas foram os americanos, com Apollo 11 e Armstrong, quem a pisou por primeira vez em 1969.

Outra disputa interessante ocorria no esporte, principalmente nas Olimpíadas, onde ganhar mais medalhas poderia significar ter uma ideologia superior. E contar com muita propaganda a favor. O futebol não fazia parte dessa disputa. Os americanos nunca deram bola para a nossa bola, e os russos, apesar de esforçados, fortes, eram e são pouco habilidosos com a redonda e nunca fizeram parte da elite mundial.

O Brasil, sem Pelé, havia ganhado o mundial de futebol no Chile em 1962 com grandes atuações do Garrincha, nosso anjo de pernas tortas. E foi nessa época que apareceu na imprensa uma notícia que os soviéticos haviam desenvolvido cientificamente um ponta-direita tão bom ou melhor que o nosso Garrincha. Se chamava Slava Metreveli. Eu não me lembro de havê-lo visto jogar, mas diziam que era rápido, tinha bom controle da bola e, principalmente, driblador, como o nosso Garrincha. Mas não passava disso e nem chegou a jogar em grandes centros do futebol europeu. Era mais fruto de histórias mal contadas e da pouca informação que então havia.

Dizem que Metreveli quando abandonou o futebol, no seu cotidiano, seguia driblando a vida, como quando encontrava alguém e ameaçava dar a mão e dava um beijo, ou ao revés; se tinha que subir um andar fazia que ia pelo elevador, voltava e subia pela escada; prometia namoro a uma moça e terminava noivando com outra. Ou, quando estava dirigindo o seu Lada, dava o sinal de luz para a direita e virava para a esquerda. Ou vice-versa. Um efeito secundário, talvez, herdado dos tempos de laboratório quando os russos o treinavam para ser Garrincha.

Mas Metreveli, diferentemente de Garrincha, não terminou seus dias afogado na bebida e sem dinheiro. Nem em algum acidente com o seu Lada. Morreu em 1998 na Geórgia após uma longa enfermidade. Sem nunca haver chegado nem nos pés do Garrincha. Nem das suas pernas tortas. Mesmo com toda suposta ajuda tecnológica soviética.

 

 

José Humberto Scandiuzzi

 

Março, 2024

 

P.S.: Nossa homenagem a Garrincha, há 90 anos do seu nascimento, 50 anos do jogo de despedida e 40 da sua morte!

Crônica publicada no jornal “Correio Popular” de Campinas no dia 7 de marco de 2024.

7 comentários sobre “Garrincha e o russo”

  1. Pois é, o nosso Garrincha jogou 60 partidas pela seleção, e tem a incrível marca de 59 partidas invictas. Só perdeu a última na copa do mundo de 1966 quando êle e a seleção estavam um bagaço. Depois dele só Aldair que tem 48 partidas invictas. Marca que acho impossível de ser superada.

  2. Parabens Beto!
    Texto rico em informações e bem articulado ideativamente. Que voce tenha muita inspiração para novos textos. Aguardando. Abraço!

  3. Olá primo amado.
    Excelentes informações. Penso que jamais aparecerá OUTRO GARRINCHA.
    Boas informações. Delcio gostou muito.
    Nosso abraço.

  4. Tinha que ser o Beto.Aproveitou a GUERRA FRIA entre EUA e a antiga UNIÃO SOVIÉTICA para falar do nosso Garrincha,o segundo jogador melhor do MUNDO,depois do PELÉ é lógico.

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